quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Crónicas de um viciado


Olá a todos.

É com grande orgulho que dou início à minha primeira publicação aqui no Vício dos Carros.

Resolvi começar por um carro que me marcou desde cedo, no tempo em que a minha avaliação de um automóvel era simplesmente baseada nas linhas dele, muito antes de pensar em V8's e turbos, caixas manuais, suspensões com pouco body roll ou quais das rodas recebiam potência. 
Nesta altura muitos dos carros eram desenhados com réguas, cresci no meio deles, foi a eles que me habituei e são o que realmente conheço. O resto é tanto uma dádiva como uma novidade, uma atracção de feira ou uma curiosidade no National Geographic, é algo que eu talvez explore. Um dia. Quando me cansar das linhas rectas.

O meu conceito de beleza é portanto um pouco complicado, não sou o tipo de pessoa que nega a evidente supremacia de um 250 Testa Rossa, ou a majestosidade de um DB5, mas sou verdadeiramente louco pelos faróis quadrados na grelha preta de uma Toyota Hilux dos anos 80. E o carro do qual vou falar tem bastante em comum com a tal Toyota, porque contracenou com ela num clássico de Hollywood: "Regresso Ao Futuro".

O DeLorean. DMC-12 para ser mais concreto, um carro eternamente associado a viagens no tempo, portas estilo asa de gaivota e uma cilada envolvendo cocaína, que não deu em nada.







Começou por ser o sonho de um visionário, um ex-vice presidente da General Motors que, sem querer, inventou o conceito e o primeiro muscle car da história, o Pontiac Tempest GTO, John DeLorean.

DeLorean decidiu criar a sua própria marca, a DeLorean Motor Company, o que se viria a provar devastador para a sua imagem pública, mas no processo, criou um ícone, um dos maiores marcos da sua época, o DMC-12. Teve um caminho difícil, a ponto de ter de produzir o seu carro na Irlanda do Norte, numa altura de guerra, sem grandes apoios financeiros, mas conseguiu. 

O carro foi desenhado por Giorgetto Giugiaro, o chassis desenvolvido pela Lotus e o motor acabou por ser o PRV V6 de 150 cavalos, montado atrás do eixo traseiro, como num Porsche 911 ou no seu irmão, o Renault Alpine. Escusado será dizer, que com as leis de emissões dos Estados Unidos da América na altura, essa potência foi afectada, o que resultou num decréscimo de 20 cavalos e numa fama de "arrastão", ou num termo mais sofisticado e americano, "underpowered". Ainda assim, entre 1981 e 1983, cerca de 8500 DeLoreans foram vendidos, até a empresa fechar por completo.

Em 1985 estreou "Regresso Ao Futuro", dando a conhecer a milhões de pessoas pelo mundo fora este carro fantástico, de linhas rectas, simples, mas perfeitas, com portas que abrem para cima e carroçaria em aço inoxidável não pintada. O sonho manteve-se vivo.

Dez anos mais tarde, a DeLorean Motor Company foi novamente criada, todo o inventório da empresa original foi transportado de Belfast para o Texas e, desde 2008, voltou a tornar-se possível comprar um DeLorean novo, com alguns componentes modernos, mas igual ao original. É uma produção limitada, de cerca de 20 carros por ano, que faz as delícias de um fã como eu. Está inclusivamente a ser desenvolvido um DeLorean eléctrico, com 260 cavalos, embora eu preferisse modificar o PRV original, ou substituí-lo por outro V6 mais potente, talvez até um V8.

John DeLorean não viveu para ver o seu carro ressuscitar, tendo falecido em 2005, mas terá partido com perfeita noção de que o seu sonho era eterno, pois vive nos olhos de cada um de nós, que em miúdos, ou já graúdos, nos apaixonamos por aquela máquina fantástica que ele decidiu criar.








Gonçalo Sampaio, no Vicio dos Carros

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